As contribuições de Melvil Dewey para a Ciência da Informação



Melvil Dewey foi um dos baluartes da Biblioteconomia mundial, especialmente quando criou, em 1876, o Sistema de Classificação Bibliográfica que leva o seu nome (Classificação Decimal de Dewey ou simplesmente CDD) e o curso de Biblioteconomia ou 1887.

Porém, as contribuições de Dewey, mesmo que “não intencionalmente” foram marcantes também para a constituição do campo da Ciência da Informação, pois o século XX se tornou repleto de estudiosos com a pretensão de resolver os problemas relativos a organização do conhecimento estabelecidos com a explosão informacional dos séculos XIX e XX.

A primeira grande contribuição de Dewey é referente a uma nova propositura de organização bibliográfica do conhecimento. Embora este grande bibliotecário atentasse essencialmente na biblioteca, seus estudos estimularam a organização do conhecimento em outros suportes, inclusive o digital.

É inegável, embora da década de 70 para cá os sistemas de classificação bibliográfica tenham entrado em crise de sentido e de aplicação para organização do conhecimento, que a CDD traz um questionamento, já a partir do período de sua criação, sobre a necessidade de um pensamento contínuo concebido a médio e longo prazo, pois Dewey sabia que depois de certo tempo o mundo estaria repleto de bibliotecas que precisariam estar bem organizadas a partir de um sistema de classificação bibliográfica consistente com vistas a promover acesso eficiente e eficaz para os usuários.

As proposições de Dewey serviram de base para diversos estudos como os de Paul Otlet e Henri La Fontaine quando criaram a Classificação Decimal Universal (CDU) baseada na proposta da CDD e quando desenvolveram a idéia da Documentação que foi crucial para o advento da Ciência da Informação (este estudo está concentrado na obra Tratado da Documentação - Traité de documentation). Vale ressaltar que esses estudos já antecipavam reflexões atuais sobre a Internet, pois falava de uma rede de milhares de documentos ligados entre si através de links, que podiam ser consultados por qualquer pessoa em qualquer local, bem como a Web Semântica.

Outra contribuição de Dewey está diretamente ligada ao campo das Ciências Cognitivas que a Ciência da Informação também pode ser inserida. Esta contribuição se dá primeiramente no nível de colocar no contexto pragmático o significado lógico e técnico do conhecimento para que seja localizado e compreendido, como Dewey fez com a criação da CDD, inclusive, passou a ser chamado por Peter Burke como bibliotecário-filósofo e num segundo plano pelo fato de que Dewey une lógica, técnica e cognição quando utiliza números arábicos e símbolos para representar o conhecimento humano.

Dessa forma, Dewey fomenta nos cientistas da informação do final do século XIX e início do século XX, novas propostas para a organização do conhecimento. Obviamente que novos procedimentos para organização do conhecimento são amplamente necessárias, tanto a partir da condição técnica de organização, disseminação, recuperação e uso da informação, como levando em consideração a condição cognitiva da compreensão de que é preciso a criação de meios que satisfaçam as necessidades dos usuários.

Finalmente, compreendendo o transcorrer histórico não apenas como uma narrativa e nem como uma sucessão de fatos, mas como um conjunto de contradições e paradoxos que são complementares ou conflitantes entre si, é preciso perceber que os estudos das diversas áreas do conhecimento possibilitaram o desenvolvimento de novos estudos, visando satisfazer as necessidades cotidianas da população. No caso da Ciência da Informação, embora seja uma ciência do século XX, os estudiosos que iniciaram no século XIX suas reflexões, como Dewey, foram determinantes para estimular novas reflexões e ações nos intelectuais que o seguiram na cronologia da vida em torno da problemática da organização do conhecimento, tanto num plano técnico, como num plano cognitivo.


Jonathas Carvalho

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