A importância da biblioteca nos presídios

Não é comum falarmos de informação para prisioneiros e nem da formação de bibliotecas para ampará-los informacionalmente no Brasil. Isso ocorre em boa parte por causa da visão do Estado e da própria sociedade de que o preso é um condenado e que não tem condições e nem merece a oportunidade de "recuperação".

Devemos observar que a biblioteca é um espaço que deve ser acessível a toda a população independente de raça, religião, status social e econômico e nível intelectual. Também devemos observar a bibloteca não somente como um espaço com estantes e coleções de livros, pois como dizia Briquet de Lemos "nem toda coleção de livros é uma biblioteca, do mesmo que nem toda biblioteca é uma coleção de livros". Por isso, seria bastante pertinente não somente pensar, mas também agir, visando mostrar a importância da biblioteca na prisão. Temos um alento com a projeção de abertura de bibliotecas nos presídios de São Paulo e outros locais, mas poderíamos pensar na expansão dessas projeções através de uma política do Governo Federal em parceria com os estados, municípios e a área de Biblioteconomia, de forma planejada e integrada, com vistas a envolver o amplo potencial de uma biblioteca, explorando seus diversos suportes e possibilidades de ação social, educativa, e cultural.

Há exemplos de muitos presos que conseguiram se reabilitar e reconduzir sua vida através de projetos sociais, culturais, educativos e religiosos. Daí, constatamos que a biblioteca pode ser um importante instrumento para auxiliar na formação dos presos e torná-los aptos a uma vida digna em sociedade. Através de um trabalho informativo a biblioteca pode mostrar possibilidades de atuação profissional, bem como auxiliar no processo de formação leitora dos presos. Essas são apenas algumas funções de uma biblioteca dentro de uma prisão.

Para tanto, é preciso um certo desprendimento de discriminação observando que o preso pode ser um indivíduo cheio de potenciais profissionais e intelectuais. Pois entendemos que condenar o preso e não buscar "recuperá-lo" é atestar o sinal de que estamos sendo coniventes ou pelo menos não estamos sabendo os melhores caminhos para o combate a criminalidade e a violência física.

Embora essa mentalidade seja ainda visivelmente aplicada mais nos países desenvolvidos, como a Alemanha e a Itália, nos cabe aqui dizer a natural importância informacional de uma biblioteca que poderia ser satisfatória no Brasil. Exemplo da importância da biblioteca na prisão é Antonio Gramsci que esteve confinado por pouco mais de 10 anos (1926 - 1937) e teve como primeira fonte de informação a bibloteca. Lincoln Secco (2004, p. 217), argumenta que "a primeira fonte para Gramsci foi a Biblioteca da prisão. Essa circunstância limitou e, ao mesmo tempo, estimulou a reflexão teórica".

Enfim, mesmo com as restrições ao conteúdo dos materiais da biblioteca por parte de Gramsci e de outros presos, muitos conseguiram ampliar suas reflexões, o que mostra que a biblioteca, se bem trabalhada no presídio, pode ter resultados promissores também no Brasil e não somente para pessoas mais intelectualizadas. Isto quer dizer que a biblioteca dentro de um presídio pode ser um grande passo para a "liberdade".

O artigo de Lincoln Secco pode ser acessado no link:


O artigo está nas páginas 210 a 228.

Jonathas Carvalho


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