A relação entre biblioteca e bibliotecário: uma breve reflexão


O contexto majoritário da sociedade considera a Biblioteca um simples espaço de leitura e empréstimo de livros. Muitos Bibliotecários ainda estão no ostracismo de trabalhar a função técnica da Biblioteconomia, valorizando, sobretudo, a catalogação, classificação e indexação. Isso implica dizer, evidentemente, que a visão de ambos os aspectos encontram-se cerceadas a terminologias vagas. Todavia, essa “vaguidade” pode ser suscetivelmente percebida pela classe biblioteconômica e alguns grupos de áreas afins.

Assim, fica a interpelação: Quais motivos levam os dois aspectos supramencionados a se caracterizarem de forma tão supérflua? Inicialmente é importante afirmar que a Biblioteca, normativamente, falando deveria desenvolver atividades muito mais amplas do que as tradicionais que são os empréstimos de livros. Em segundo lugar, vale a ressalva que o profissional adequado para trabalhar no desenvolvimento das atividades de uma Biblioteca é o profissional Bibliotecário. Então, estes profissionais não desenvolvem corretamente ou desenvolvem cerceadamente as atividades prementes de uma Biblioteca?

Seria mais uma vez vago responder afirmativamente a questão. É praticamente impossível avaliar as condições do contexto conjuntural entre biblioteca e bibliotecário, sem mencionar e elucidar algumas questões: a educação, sociedade governo, mídia.

O primeiro fator reflete a máxima da afirmação de muitos intelectuais: o investimento na educação é primordial para o desenvolvimento político, social, econômico, cultural e tecnológico do país. Isso aconteceu em países como o Japão, Alemanha, etc. A Biblioteca deveria ser utilizada como instrumento de educação suplementar. O que seria isso? Simplesmente o aparato onde a sociedade poderia exercer suas atividades escolares, acadêmicas, como leituras, escritos e, mormente a pesquisa, pois esta faz parte das características de uma formação mais ampla dos estudantes, vez que insufla a prática dos outros fatores citados.

Desse modo, como a Biblioteca não é bem explorada em seus atributos culturais e científicos o Bibliotecário fica a mercê de um tecnicismo, onde a prática de técnicas estudadas no curso de Biblioteconomia torna-se atividades preponderantes. Isso ocorre em virtude de inúmeros fatores: falta de estrutura da universidade para o desenvolvimento de atividades, desinteresse do docente, que fica resignado com as técnicas estudadas, sem procurar fontes de informação mais amplas para desenvolver atividades que corroborem mais com o seu local de trabalho, concomitantemente ao cerceamento de muitos locais de trabalho em exigir do Bibliotecário apenas o uso das técnicas acima mencionadas, sem reconhecer o valor de atividades educativas, sociais e culturais, que poderiam ser concretizadas por este profissional, dentre alguns outros aspectos.

Em complementação ao primeiro, o segundo é a prova cabal dos maus investimentos na educação, vez que a maioria não reconhece a Biblioteca como um pólo importante para grandes atividades. Os motivos são os mais variados possíveis: questão social, onde milhões de pessoas pouco têm o que comer, e dificilmente atentarão para a Biblioteca como uma corroboração para a sua vida. Uma frase do grande filósofo Karl Marx pode ampliar os laços de inteligibilidade do assunto, quando afirma que o ser humano para o desenvolvimento de suas atividades básicas como andar, correr, estudar, é necessário que ele tenha subsistência alimentar. Desse modo, é possível compreender que em virtude dessa questão milhões de pessoas não poderão reconhecer as atividades da Biblioteca, dado que essa grande quantidade de pessoas não tem condições físicas, sociais, cognitivas e intelectuais de usufruir da instituição supramencionada, bem como esta pouco chega às comunidades mais carentes, com o intuito de suprir necessidades educativas e alimentares (embora a segunda não seja o seu papel, mas para o seu reconhecimento nas comunidades carentes é um forte aliado) e quando chega é de forma efêmera, no contexto majoritário dos casos evidentemente.

Para uma compreensão mais elucidativa do assunto é preciso mencionar a vertente governamental que implica dizer a questão política. O governo pouco investe em educação no Brasil, comprovando um alto índice de disparidade social, miséria, fome, dentre outros fatores. O investimento do governo na educação está comprovado que é o principal fator aumentativo do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Contudo, este fato ainda está muito aquém de ter eficácia no Brasil. Assim, as Bibliotecas, como instrumento de educação suplementar ou, para alguns, até básica, fica sem estrutura física, de acervo e financeira para que o bibliotecário tenha fomento e condições para o desenvolvimento de outras atividades.

O quarto fator refere-se à mídia. Em alguns casos, o monopólio midiático oferece de informações sem análises mais profundas, onde o espectador não consegue absorver de forma promissora as informações emitidas. É evidente que a mídia produz grandes conteúdos, concomitantemente a conteúdos supérfluos e alienantes. Outro fator da mídia é o monopólio que interfere nas questões políticas do país, onde esta se apossa de vários interesses governamentais, prejudicando o interesse da população em seu aspecto majoritário.

Vale salientar como esses fatores são importantes para a constituição de uma Biblioteca reconhecida e de um Bibliotecário atuante. Com efeito, é importante que a classe biblioteconômica atente para os problemas da Biblioteca, a fim de que ambos possam ser reconhecidos com importantes atividades para a sociedade e para o país. Percebe-se que a escassez de ações políticas por parte da categoria, é outro motivo que leva ao descaso com as Bibliotecas.

Dessa forma, é fundamental a ação das categorias, que numa deliberação coletiva entre conselhos, associações, profissionais, docentes e estudantes combatam esse tipo de postura adotada pelo governo, visto que isso se caracteriza como total desvalorização da profissão de Bibliotecário para o desenvolvimento das atividades em questão. Não obstante a necessidade de capacitação do Bibliotecário para desenvolver tarefas de cunho eminentemente tecnológico (automação de Bibliotecas, Bibliotecas Virtuais, softwares livres); políticas (debates, seminários); sócio-educativas (trabalhos comunitários, visando o estímulo a leitura) e culturais (exposições de diversos assuntos), é preciso perceber que muitas aplicações a atividades em Bibliotecas relegam o Bibliotecário. Esta não é a única e nem será a última se não houver uma ação eminentemente política por parte das categorias biblioteconômicas. Está faltando ação política ao Bibliotecário, a fim de reivindicar maior visibilidade no mercado e na sociedade. É preciso união e o objetivo do enaltecimento da profissão, visando a concomitante sobrepujança da instituição Biblioteca.

Verifica-se também a importância de uma ação política dos Conselhos Regionais de Biblioteconomia (CRB’s e Conselho Federal de Biblioteconomia - CFB), Associações (pode ser encabeçada pelas associações estaduais), a Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários (FEBAB), bem como de Docentes, Profissionais e Estudantes disseminados pela nação, visando possibilitar uma grande articulação, a fim de pressionar os órgãos governamentais e outras instituições a reconhecerem efetivamente a profissão do Bibliotecário como importante para a sociedade.

Para tanto, é mister que seja trabalhado em cada estado e/ou a partir de uma integração entre os estados uma força tarefa que vise, inicialmente, a sensibilização e posterior mobilização das categorias biblioteconômicas para o êxito do reconhecimento da instituição Biblioteca e da Profissão Bibliotecário. A ação deve partir de um grupo consciente e envolvido com a causa. É difícil, mas é preciso um grande pensamento politizado, concatenado e reivindicatório, de sorte que há uma interdependência e reciprocidade de ações, entre a Biblioteca e o Bibliotecário, o que facilita o crescimento de ambos.

Contudo, de nada adianta toda essa mobilização se não houver projetos, idéias e propostas. Uma profissão que quer ser reconhecida no mercado precisa de uma mobilização política baseada numa proposta sólida. Muitas vezes o bibliotecário se questiona por qual motivo a sua função não é tão valorizada. Mas seria mais pertinente perguntar antes: qual a minha função profissional? Quais os projetos que eu tenho a mostrar, visando a satisfação da sociedade? Quais as minhas propostas de ação profissional, visando ser aceito e reconhecido pela minha instituição.

Portanto, essa relação entre biblioteca e bibliotecário aprece muito óbvia para a classe biblioteconômica no pensamento, mas será que na prática essa relação é tão visível assim? Olhando para as bibliotecas públicas, escolares, comunitárias e populares essa relação passa a não ser tão óbvia assim. Agora, imagine para a sociedade. Por isso, é de fundamental importância que a formação acadêmica em Biblioteconomia e a prática profissional estejam direcionadas no agir social, na satisfação dos interesses da sociedade, pois são eles que irão valorizar ou não a profissão. Mas enquanto a função do bibliotecário estiver direcionada apenas no fazer técnico e organizacional (com as exceções logicamente), a sociedade dificilmente compreenderá o potencial da Biblioteconomia como uma área efetivamente capaz de fazer uma biblioteca fluir e mostrar o seu potencial social, cultural e educativo.

Jonathas Carvalho

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