O governo da universidade: a necessidade de uma relação harmônica e dinâmica entre professor e aluno


É sabido quão grande é o descaso com a educação no Brasil que vai desde a educação básica até o ensino superior. Isso significa dizer que as possibilidades de um desenvolvimento social igualitário ou “atenuadamente desigual” ficam mais cerceadas, vez que a educação pode ser considerada como sendo um dos vieses mais eficientes para tal.

Vale ressaltar que, não obstante o descaso do governo para com esta causa, é necessário que a classe universitária, mormente professores e alunos estejam atentos, a fim de lutar efetivamente pela Universidade pública de qualidade (algo que está aquém de ocorrer no contexto majoritário dessas instituições, bem como esta luta encontra-se obnubilada por alguns fatores. Que fatores seriam esses? Dentro do universo universitário as vicissitudes que engendram problemáticas, desde as mais peculiares até as mais genéricas, envolvem três classes: professores, alunos e servidores.

Principalmente as duas primeiras classes desempenham papel fundamental para a constituição do que é a universidade atualmente. A terceira desempenha um papel eminentemente técnico, distanciando-se um pouco das relações pedagógicas. Alguns educadores acreditam que os servidores não podem envolver-se nesse caráter de formulação e desenvolvimento pedagógicos, todavia, acredito que a participação dessa classe insere-se como algo importante, dado que essa técnica desenvolvida pela classe, em alguns pontos, concilia-se com os processos burocráticos que permeiam as universidades e a política num contexto mais amplo.

Talvez seja principalmente em virtude da burocracia a partir do momento em que a democracia desenvolveu diretrizes confusas e um tanto quanto arbitrárias, pois hoje é praticamente impossível fundir a relação democracia e burocracia. Daí ser necessária a participação dos servidores nas relações pedagógicas, a fim de que aduzam o seu caráter técnico e burocrático. Porém, essa participação do servidor técnico-administrativo poderia ser mais dinâmica, caso a universidade não tivesse se transformado no antro de exigências burocráticas.

Com efeito, o campo mais importante de análise objetiva para o contexto das universidades, bem como as intersubjetividades que permeiam as instituições supramencionadas é a relação professor e aluno. Assim, é possível atestar que um dos fatores que limitam as lutas por uma universidade mais educativa e acessível é o isolamento de ambas as classes. Em que sentido? Embora, seja decepcionante afirmar, mas os órgãos de representações burocráticas estudantis deparam-se com uma crise de identidade eminentemente notável.

Primeiro em virtude que muitos componentes de órgãos estudantis, tais como CA’s, DA’s e DCE não procuram conhecer de forma mais abrangente a conjuntura universitária e, quando conhecem, normalmente é de forma isolada, sem uma transmissão conteudística em que haja reciprocidade, ou seja, a concatenação política estudantil não permite um embasamento coletivo da conjuntura universitária. Em segundo lugar isso ocorre pela introdução demasiada da ideologia dos partidos políticos dentro das entidades, onde as divergências partidárias entre os estudantes, e muitos casos, passam a ser consideradas como sendo divergências pessoais, onde o encaminhamento coletivo de idéias, a fortificação das entidades estudantis é cerceada.

Porém é importante salientar que os contatos com os partidos políticos são importantes, desde que não atestem um conteúdo fechado, a fim de que as relações estudantis (que são relações sociais e não deixa, dentro do “mundo” universitário de serem relações pedagógicas, de sorte que corroboram maléfica ou beneficamente para a conjuntura da universidade) não fiquem alienadas e sem perspectivas.

E em relação aos professores? Esse caso perpassa por um processo mais amplo e que envolve diretamente a hierarquização. Muitos docentes, em virtude de sua formação acadêmica confundem a autoridade intelectual, com a autoridade moral e política. Os professores também têm suas entidades, mas diferentemente dos estudantes que esbarram na questão partidária, ocorre um forte interesse de classe, onde há um fechamento nas relações entre professores e alunos. No que concerne às greves, estas têm se confundido com o maior fomento a uma reforma universitária igualitária e, por conseguinte, na luta por uma universidade pública de qualidade. Contudo, estas têm se manifestado, em seu contexto majoritário, com ao conquista dos interesses de classe docente, muito aquém da tão sonhada luta bem concatenada e estruturada por uma universidade melhor.

Assim, na hierarquia da universidade, onde o Reitor é a autoridade máxima, os docentes possuem representatividade ampla nos conselhos. Não podemos deixar de reconhecer o desprezo de muitos docentes em relação aos estudantes E por quais motivos a participação estudantil é escassa? Primeiro é fundamental ressaltar que o estudante, por suas tendências naturais na universidade, é um instrumento revolucionário, o que incomoda muitos docentes, pois causa um agito no governo da universidade.

Muitos docentes se arriscam a afirmar que a presença do estudante nos conselhos tanto departamentais, quanto dos conselhos que promovam a reunião dos mais variados cursos da universidade, são supérfluas, vez que o discente não tem a capacidade de conhecer os procedimentos técnicos, burocráticos e administrativos, que permeiam a universidade. Porém esta afirmação pode ser facilmente contraditada, visto que muitos professores também desconhecem essa realidade, pois quem as conhece amplamente são os burocratas da universidade.

Assim, percebe-se a importância da participação estudantil nos conselhos universitários, a fim de que mostre a sua visão e contribuição pedagógica. Ora, e de quanto pode ser essa representação? Acredita-se que esta depende da conjuntura interna da cada universidade. O que não pode ser feito é relegar o estudante nessa participação, pois, se assim for feito, o processo de discussão cultural e social, papel primordial da universidade ficará cerceado e atestará que a hierarquia reina nessa instituição, contraditando as idéias de grandes educadores, mormente Paulo Freire, onde se afirmava que o processo das relações pedagógicas (e, portanto sociais e culturais) não podem ser hierárquicos e permeados de “exclusões”, pois isso contribui somente para um planejamento mal feito na universidade e para uma formação estudantil precária na mesma proporção do ensino.

Para o aperfeiçoamento da relação professor e aluno, a fim de que ambos possam desempenhar de forma eficiente os seus compromissos, é evidente que devem discutir juntos, a fim de que ambos apreendam concatenadamente as suas funções e corroborem de forma promissora para a universidade. Isso vale também nas representações dos conselhos. O que não pode se torna mais viável para a educação superior é o estabelecimento de uma relação arbitrária entre professor e aluno em que o primeiro exige e se torna um depositário de informações, enquanto o segundo apenas atende as exigências e recebe o que está sendo transmitido. É preciso uma revisão na educação superior no que se refere ao processo de implementação de metodologias, de ações pedagógicas que sejam dinâmicas e estimulem no seio da educação o processo de ensino-aprendizagem. Porém, é preciso ainda, uma reformulação na educação básica e secundária, pois quando o aluno se insere na universidade comumente vem repleto de “vícios” e resignado na relação professor/aluno como um estigma de que o professor é o detentor do conhecimento, enquanto o estudante é algo vazio sem qualquer informação e/ou conhecimento e que esse mesmo estudante deve estar atento ao que o professor fala, pois será testado para saber se o que foi introduzido pelo docente está realmente sendo “captado” pelo corpo discente.

Com essa união, a luta por uma universidade pública de qualidade, cobrando efetivamente do governo a fazer uma reforma universitária, que faz parte de uma reforma social, visto que muitos querem entrar numa graduação, a fim de seguir uma carreira acadêmica, ou mesmo, ter uma preparação mais ampla para o mercado de trabalho e são arbitrariamente excluídos desse processo, que, no Brasil, é eminentemente competitivo e é introduzido com avaliações vagas, que deixam os estudantes em situação constrangedora.

As conseqüências de governos, onde uma classe tem representatividade praticamente máxima, é a comprovação cabal de que as relações pedagógicas estão sendo afetas e não desenvolvidas como realmente deveriam. Infelizmente, são esporádicos os casos em que professor e aluno tem uma relação efetivamente recíproca de respeito às capacidades intelectuais e específicas de cada um. O docente evidentemente, deve estar embasado de uma visão intelectual eminentemente ampla. Todavia, qual o sentido do seu conhecimento, senão para implementar metodologias interativas e que permitam o debater com os alunos? Bem como para desenvolver projetos contributivos com a sociedade, em que, muitos deles, necessitam da representação estudantil. Esse é o momento em que a universidade aprende e cresce com contribuições coletivas pautadas em objetivos coletivos e executadas coletivamente.

Historicamente falando, além de termos que suportar governos voltados para as elites, ocasionando o agravamento da desigualdade social, ainda vemos de perto uma competitividade entre docentes e discentes, como se o contexto educacional, cultural e social, não se encontrasse acima dessa relação. Governar a universidade não é fácil, mas os maiores problemas infelizmente são políticos, vez que muitos governantes das instituições supramencionadas também compactuam com o sistema vigente, deixando de ver a universidade como bem de discussão e transmissão cultural e do desenvolvimento das atividades intelectuais.

Finalmente, é preciso que todos aqueles voltados para a área da educação, cultura e ação social, estejam participando dos conselhos da universidade e não se pode deixar de registrar como fundamental a participação estudantil, uma vez que a universidade não é feita nem composta por uma classe, mas é promanada de professores, alunos e servidores, tendo com função precípua a discussão cultural e a contribuição para com a sociedade a partir de um planejamento bem estruturado que envolva essas classes, a fim de que seja realmente efetivo e não somente seja argumentado em caráter normativo (que deveria ser, mas não é).

Jonathas Carvalho

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