Crise política no Brasil: novidade ou ofuscamento das elites?


Caros leitores, compartilho artigo que escrevi referente a crise política no Brasil traçando um breve paralelo sobre a história política brasileira e a primeira gestão do governo LULA.

CRISE POLÍTICA NO BRASIL: NOVIDADE OU OFUSCAMENTO DAS ELITES?

O Brasil é um país com grandes dimensões. Isso caracteriza uma diversidade ou hibridismo cultural muito grande. Isso significa que cada região possui as suas especificidades, bem como contribuem para o futuro do país seja ele de forma maléfica ou promissora. Politicamente é mister reconhecer que, historicamente, somos um país subordinado ao capital estrangeiro. Assim, foi com a Inglaterra, quando contraímos uma dívida de 10 milhões para a compra de uma parte do território boliviano (hoje o Acre). Com os E.U.A. no monopólio mundial o agravamento da dependência econômica, política, social, cultural, tecnológica, etc. foi inevitável, face as administrações de uma elite que, na dependência, se beneficiava com atos de vandalismo ao Brasil.
Por qual motivo vandalismo? Ora, não podemos deixar de avaliar governos voltados para a classe minoritária, possuidoras do poder e fazendo deste a sua munição de arbitrariedades, assim como perceber que a herança deixada de Portugal ao nosso país foi por demais avassaladora. Produtos como ouro, açúcar e café tornaram-se mais desvalorizados impossibilitando o Brasil de competir com o mercado internacional quando da sua “independência política”.Falo em vandalismo em virtude de que apropriar o capital estatal, afim de privatizá-lo e render ao povo brasileiro o eminente pagamento de impostos e a contração de uma dívida interna que hoje passa dos 850 bilhões e que consequencia uma dívida externa, é um atributo que o povo brasileiro sofre sem ter representantes de um escalão mais humanizante e igualitário.

Governos como o de Washington Luis, cujo tema precípuo era: “Governar é construir Estradas”, o de Juscelino Kubitschek que abriu, ou melhor dizendo, se rendeu ao capital externo são provas de que o vandalismo político no Brasil é uma variante incisivamente importante para a avaliação da nossa atual crise política.

Quais os sentidos desse contexto histórico para a nossa atual crise política? Não é novidade para ninguém que esta se alastra pelo país há séculos e que é necessário a concatenação desses valores históricos para a compreensão de nossa conjuntura atual. As disparidades sociais reinantes atestam que governos voltados para a elite visualizam a ilusão de que o desenvolvimento é a arma da grande representatividade do país, sendo ele tecnológico, turístico, etc.

O que constrange é ler a Constituição Federal e não precisamos passar nem do seu pré-âmbulo para notificar que a mesma tem um caráter eminentemente ilusório, além de ser beneficiadora de uma minoria que se apodera da mesma para ditar normas e simplesmente não cumpri-las. Esse início de república era o algoz de um sofrimento já passado na era colonialista e imperial. Mudou apenas o regime, mas não a perspectiva de igualdade para a nação. O pré- âmbulo da constituição diz assim:


“Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem- estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos sob a proteção de Deus, a seguinte CONSITTUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL”. (MORAES, 2000. P. 13).


Qual o significado dessas palavras, ou melhor desses valores? A priori é a constituição de um estado onde é soberana a harmonia, ou sucintamente a relação humana e igualitária existente entre os homens dessa nação. Os nossos governos, pelo menos em seu contexto majoritário buscaram efetivar justamente o contrário do que aí se apregoa. A Ditadura Militar de 1964 a 1985 foi um ato de democracia, de valorização humana, de liberdade? Desconheço esses valores na caracterização da mesma. Os motivos pelos quais foram impostos regimes ditatoriais pela América Latina, talvez não seja novidade: a ascensão de movimentos de cunho revolucionário, no Chile, Argentina, Brasil, Uruguai, dentre outros causaram espanto a hegemonia norte-americana e a consequente instauração das Ditaduras.

No Brasil João Goulart era a perspectiva de mudanças para a classe majoritária quando decretou que 10% da produção agropecuária deveria ficar compulsoriamente por aqui. Isso significou a expectativa de um limiar da economia e da política autônomas, todavia barrados pelos E.U.A. de forma arbitrária.

Chegando ao governo Fernando Henrique Cardoso, verifica-se a sua maestria enquanto sociólogo para conduzir a relação política interna e internacional exposta na constituição. Este foi assaz inteligente para ludibriar o povo brasileiro e contrair a maior dívida da história brasileira. O Plano Real era o desenvolvimento político-econômico tão pretendido por políticos. O próprio FHC sabia que por alguns instantes haveria estabilidade da economia e valorização política, sendo que ulteriormente a derrocada dos dois aspectos supramencionados seria vital para a nação.

Então, a crise política, econômica, social do Brasil é amplamente histórica e o presidente Fernando conseguiu agravá-la ainda mais. A sua articulação política prova o contrário, em virtude que mais pessoas tiveram acesso as tecnologias como a televisão, o computador e mais especificamente a Internet, celulares. Por onde passamos vemos alguém com celular. Será que isso é desenvolvimento? Do ponto de vista financeiro sim e do ponto de vista social? A desigualdade social no Brasil se agravou sobremaneira nos últimos anos. Os investimentos em educação e cultura, bases de respaldo para um desenvolvimento igualitário são pífios diante do que é gasto para pagamento da dívida externa, dos salários recebidos por políticos, afora os processo de corrupção vigentes. Isso mesmo corrupção, daí chego ao epicentro da questão: a corrupção no governo FHC foi menor do que o atual até o momento? O agravamento de uma subordinação ao capital externo também foi menor?

Acredito que o Governo Lula é a maior decepção que muitos militantes de esquerda estão tendo, inclusive alguns saindo do PT, pois este perdeu a sua identidade. Agora, é necessário que o povo brasileiro (aí incluo militantes de esquerda, os que apóiaram Lula, os conservadores, a classe mais pobre, etc.) perceba que a decepção com o Lula é demasiadamente grande, mas por qual motivo nunca se falou de impeachment contra o senhor FHC? Será que a população brasileira acredita que o governo anterior é melhor do que o atual? A intenção aqui é justamente ampliar os campos de análise e não restringi-los. Uns acreditam que o governo anterior é melhor do que esse. Já outros acham este melhor, mas não isentam o Lula de culpa pela crise vivida no Brasil. Alguns ainda não acreitam em nenhum dos dois. Há aqueles que acreditam que para uma mudança igualitária é mister um processo revolucionário, com a militância do povo brasileiro em ação, baseado nas idéias de uma maior justiça social e ao menos de um asseguramento dos direitos constitucionais. Como dizia Karl Marx “As idéias se congeminam com as práticas sociais”. Assim, para essa mudança, que alguns apregoam (e faço parte dela), é preciso a mobilização do povo na perspectiva de ver um país mais humano e justo.

Para tanto, é preciso o advento de uma nova força política que ascenda ao poder para concretizar essas mudanças. Novas militâncias vão surgindo aliadas a outras já existentes. Não obstante, acredita-se numa unificação de partidos ainda considerados de esquerda para fortificar o bloco daqueles que anseiam por mudanças de cunho igualitário, pois acreditar que vivemos numa democracia, quando podemos votar é até plausível, contudo não é possível acatar o que nos é asse4gurado no pré-âmbulo da Constituição que anti-democratiza as possibilidades de sociabilização da nação brasileira no que concerne a igualdade social. por isso afirmo que não vivemos de fato numa democracia, mas numa plutocracia (governo daqueles que possuem poder econômico). assim, percebe-se que quem governa no Brasil são os grandes grupos empresariais externos e nacionais e o governo ao invés de representar o povo em seu contexto lato assegurado constitucionalmente, rende-se a esse “governos” disseminados pelo Brasil e que monopolizam o capital financeiro, industrial” e consequentemente cerceiam as possibilidades das ações dos exercícios sociais e mais amplamente dos direitos que nos são assegurados.

Finalmente, pode-se notificar que o governo Lula é uma decepção muito grande, face as reformas da previdência (existem países que demoram 10, 20 e até 30 anos para instaurar uma reforma previdenciária bem estruturada e o governo brasileiro tentou fazer em menos de dois anos de forma arbitrária). Para a implantação de uma reforma previdenciária é mister a estruturação da seguridade social que é representada por três aspectos: saúde, assistência social e previdência. Sem os dois primeiros em plena estabilidade fica difícil a concretização exitosa do terceiro. Em relação a Reforma universitária, acredita-se ser uma traição a classe estudantil, tanto a atual como a que militou a 10, 20, 30, 40 anos em busca de algo mais justo para os estudantes universitários e não relegar a segundo plano as Universidades públicas e a privatização do ensino superior brasileiro. Estas são crises que devemos sobretudo nos decepcionar, mas é preciso que haja a ampliação das visões de que essa crise atual não é isolada; parte de fatores instavelmente estruturados, isto é, os governos anteriores concretizaram crises semelhantes, sem contudo, receber uma abordagem tão intensa da mídia e do povo brasileiro. Diante do exposto fica a alerta: a crise política do Brasil é resultado de um processo histórico que faz-se necessário mudar, pois caso isso não aconteça continuaremos crescendo e as disparidades também. Que paradoxo!!!!!

Jonathas Carvalho

blog comments powered by Disqus