BIBLIOTECA COMUNITÁRIA OU POPULAR? QUAL DELAS BUSCA A CONSCIENTIZAÇÃO DA COMUNIDADE?










É pertinente observar a importância da ação de uma biblioteca na comunidade. Porém, é preciso saber também qual papel essa biblioteca desempenha para a comunidade, dado que a biblioteca, infelizmente pode ser utilizada numa dicotomia, ou seja, tanto no caso de conscientização, bem como de alienação e promoção da ideologia dominante. Para um maior entendimento da questão nada mais clarividente do que utilizar duas concepções de bibliotecas: comunitárias e populares.

Em relação a primeira pode ser verificada como sendo uma concepção de biblioteca que amolda a comunidade as diretrizes da ideologia dominante, isto é, não busca uma conscientização da comunidade, dando-lhe respaldo para conhecer a realidade social, mas simplesmente que as deixam resignadas. As bibliotecas comunitárias atualmente são as mais conhecidas, inclusive em qualquer comunidade recebe este nome, vez que a intenção é amenizar as propostas provenientes da biblioteca popular. Assim, o termo Biblioteca Comunitária foi assimilado e aceito, enquanto que o termo Biblioteca Popular continua rejeitado (ALMEIDA JÚNIOR, 1995).

Outra limitação que concerne a Biblioteca Comunitária é a concepção do desenvolvimento de trabalhos apenas com livros, e esta restrição já exclui uma grande camada que não tem acesso à escrita, de modo que falar em comunidade implica em moradores de periferia, de baixa renda e escolaridade. Com efeito, a biblioteca precisa buscar reconhecê-la como agente ou sujeito social capaz de criar espaços de cultura (FERREIRA, 2003).

Em relação às Bibliotecas Populares vale ressaltar que estas visam estruturar uma concepção de identidade social a comunidade, tornando-a sujeito social de sua história. Para corroborar com o pensamento da idéia de Biblioteca Popular Rabello (1987, p. 41), afirma:

A idéia de Biblioteca Popular, e sua prática, aproximaram as bibliotecas das camadas populares, procurou estruturá-la de baixo para cima, criou condições para torná-la participativa. A biblioteca passou a acompanhas seu tempo, inseriu-se na história, ofereceu uma contribuição renovadora para a área.

Todavia, é importante questionar que para o êxito dessas bibliotecas na transformação de uma instituição socialmente útil é preciso avaliar a perspectiva de mobilizar a comunidade para exigir a participação com recursos do Estado, visto que a biblioteca é uma instituição que demanda recursos para o desenvolvimento dos seus projetos. Isto quer dizer que a Biblioteca Popular deve interagir com o Estado, especialmente na institucionalização da biblioteca pública, mas não com o objetivo de manter a ideologia dominante, e sim com vistas a angariar recursos financeiros e a articulação de atividades, tais como a promoção da leitura, serviços de informação utilitária e cotidiana, dinamização do acervo, seja no sentido pedagógico, seja no administrativo, seja no técnico, seja no social, dentre outros, visando trabalhar o processo de conscientização da população.

Outra condição crucial em que a Biblioteca Popular perde um pouco de credibilidade com a comunidade e precisa de urgentes transformações é o fato de que pouco existe continuidade nas suas atividades, ou mesmo ausência de resultados, de sorte que às comunidades possuem necessidades diferenciadas e peculiares, mesmo apresentando condições semelhantes, tais como: pobreza, baixa escolaridade e renda, dentre outros.

A verdade é que a concepção de Biblioteca Popular, mesmo não tendo sua acepção bem definida é objeto de estudos que buscam ratificá-la como uma instituição socialmente útil e que tenta se aproximar da comunidade a fim de satisfazer as suas necessidades de maneira adequada. Para que esse conceito seja efetivamente ampliado faz-se necessário a ação do bibliotecário num processo de conscientização da comunidade no que tange a importância dessa instituição, mas num processo de baixo para cima, ou seja, onde as pessoas, na formação de um caráter coletivo, sejam escutadas e participem do processo de implantação da biblioteca, bem como de seu desenvolvimento.

A Biblioteca Popular, na perspectiva de fazer uma abordagem da comunidade buscando a conscientização deve envidar as ações adequadas com a comunidade, tendo muita cautela em relação a estudos quantitativos, pois estes podem atrapalhar a adaptação da comunidade a realidade da biblioteca. De acordo com Saviani (1984, p. 127):

O fracasso da abordagem quantitativa resulta, como se mostrou, de uma perspectiva conservadora, isto é, da atitude segundo a qual a sociedade no seu todo é considerada satisfatória, não carecendo senão de retoques superficiais; nesse contexto, o papel da escola será preservar o tipo de sociedade prevalecente (os padrões dominantes) e garantir-lhe cada fez maior eficiência e produtividade. Aqueles que se situam nessa perspectiva acreditam ingenuamente (no sentido epistemológico da palavra) que seja possível operar mudanças quantitativas sem mudanças qualitativas. Essa crença leva, pois, não apenas a hipertrofia da quantidade em detrimento da qualidade (como se pensa correntemente) mas a própria frustração das metas quantitativas. Com efeito, as mudanças quantitativas, na medida em que se tornam significativas, acarretam inevitavelmente, mudanças qualitativas.

Enfim, é importante salientar a necessidade de um estudo constante da comunidade a fim de saber qual o seu desenvolvimento, satisfação e sugestão para o desenvolvimento da biblioteca, pois isso mostra além de uma relação de reciprocidade, a construção de uma biblioteca com a efetiva participação da população do local.




REFERÊNCIAS



ALMEIDA JÚNIOR, Oswaldo Francisco de. Biblioteca Pública: ambiguidade, conformismo e ação guerrilheira do bibliotecário. São Paulo: APB, 1995, n.15. 12p.


FERREIRA, Sandra Regina Melito. Biblioteca Comunitária: acesso e paixão pelos livros. Disponível em: . Acesso em: 12 de fevereiro de 2006.


RABELLO, Odilia Clark Peres. Da biblioteca pública à biblioteca popular: análise das contradições de uma trajetória. Revista da Escola de Biblioteconomia da UFMG, Belo Horizonte, ano 16, n.1, p.19-42, março, 1987.

SAVIANI, Dermeval. Educação: do senco comum à consciência filosófica. São Paulo: Cortez, 1984.


Jonathas Carvalho

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